Institucional

TRAJETÓRIA DA SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO XV DE NOVEMBRO

 

1 - O início
2 - Os uniformes
3 - A participação feminina na Banda da União

 

O início

Desde a sua origem as associações musicais, em geral, sempre se mantiveram próximas do poder. As referências encontradas são sempre associadas à figura do rei ou do imperador, de uma irmandade religiosa ou de partidos políticos. A sua existência sempre esteve condicionada a realização de eventos e comemorações em que se fazia necessário o destaque através da música.

Por volta do século XIII, na Europa existiu uma forte tendência de formalização de agrupamentos de indivíduos que tinham em comum o fato de praticarem o mesmo ofício. No caso dos músicos, as primeiras corporações de ofício nasceram como Irmandades ou Confrarias, ligadas a alguma Igreja e obedecendo a um compromisso (estatuto, regulamento) escrito pela própria corporação.

As corporações musicais, tal como as conhecemos nos dias atuais, originaram-se no século XIX, na mesma época em que ocorre o aperfeiçoamento dos instrumentos de sopro. Tem-se notícia de dois encontros internacionais, um em Nápoles, o Congresso de Música em 1865 e outro em Paris, Concurso Europeu de Bandas Militares em 1817.

Pesquisadores atribuem a Maurício de Nassau (1637) ou D. João VI (1808) a criação das primeiras bandas militares brasileiras. No Brasil Monárquico as bandas militares eram criadas e sustentadas pelo Estado e as bandas civis por Irmandades religiosas ou grandes proprietários rurais.

No século XIX, a maioria das vilas ou arraiais mineiros possuíam a sua própria Banda de Música. Minas Gerais era uma região bastante populosa e com atividade musical muito intensa devido à forte presença religiosa associada à tradição dos grupos musicais da região. Caracterizadas pela forma dada pela identidade étnica ou profissional dos seus integrantes, as bandas de música se identificaram também pelos mecanismos de solidariedade desenvolvidos no interior dos grupos. Atuando como corporações reguladas por um estatuto, com objetivos filantrópicos ou assistencialistas, vinculadas à Igreja ou aos Partidos Políticos, sempre mantiveram caráter solidário.

Se num primeiro momento, aqui no Brasil, a associação dos grupos musicais, com o poder local, se deu com a Coroa Portuguesa e as estruturas militares da administração colonial, assim como com a Igreja e as Irmandades, num segundo momento, essa aproximação aconteceu em relação à estruturação dos partidos políticos após a queda do regime monárquico.

Em 1889 foi proclamada a República Brasileira. O Brasil deixou de ser um império e os ideais da filosofia positivista que exaltava a ciência e o governo baseado na “ordem e progresso” entusiasmaram a juventude civil e militar. Para muitos, o Brasil só se tornaria moderno se fosse republicano.

Para divulgar as idéias republicanas no Brasil, foram criados no início do século XX, vários instrumentos de propaganda, veículos de comunicação de massas com o intuito de divulgar as novas idéias. Havia muita resistência por parte dos monarquistas, e isso ocasionou o surgimento de várias revoltas e movimentos populares o que levou com que os militares só conseguissem consolidar a República aproximadamente cinco anos após a sua proclamação.

Nesse contexto, nasceu em Mariana, no ano de 1901, a Sociedade Musical União XV de Novembro, por iniciativa do Dr. Gomes Freire de Andrade: médico, professor, liderança política local e diretor do Partido Republicano na cidade. O objetivo claro da criação da sociedade musical foi a propaganda republicana. Na tarde do dia 15 de novembro de 1901, no seu solar, reuniu os poucos músicos da época: Antônio de Pádua Coelho, José Caetano Corrêa, Augusto Walter, Antônio Miguel de Souza, José Antônio Soares, José Ornelas Alves Pereira, para discutirem as possibilidades da formação de uma Banda de Música, cujo principal objetivo seria a sua integração nas novas forças políticas, identificadas com os idéias republicanas, cujo partido chefiado pelos adeptos fervorosos da democracia estava inteiramente ligado às correntes revolucionárias que implantaram a nova ideologia, em substituição ao regime monárquico.

Mariana foi um dos primeiros municípios que aderiram entusiasticamente às novas diretrizes democráticas do Partido Republicano, fundado aqui pelo Dr. Gomes Freire de Andrade, que elaborou o programa e estabeleceu as bases doutrinárias e liberais do estatuto partidário a vigorar em todo o município.
Por mais incrível que pareça, o conjunto, recém-formado, possuía o dom de arrebatar multidões, arrastando-as aos vibrantes comícios de propaganda, aliciando prosélitos e, dir-se-ia, que as adesões se multiplicavam quase milagrosamente com os acordes da Banda que, sem favor, foi a alma mater da consolidação dos ideais políticos da nova facção, dirigida pelo Dr. Gomes Freire de Andrade.


Junto com a Sociedade Musical União XV de Novembro, foi fundado, também, o jornal Rio do Carmo, desaparecido em 1903 e renascido em 1905 com o nome O Germinal. A Banda e o jornal, com os mesmos objetivos, caminhavam em parceria, sintonizados com a propaganda republicana. No jornal eram publicados os artigos em defesa dos ideais da República e noticiadas as principais ações, inclusive todos os eventos em que havia a presença da Banda da União. Na mesma época foi fundada também a Banda São José. Esta, porém, a princípio, se dedicava mais à participação de festas e ofícios estritamente religiosos.

Aos poucos a Banda foi aumentando a freqüência das suas apresentações. Em retretas e passeatas, alvoradas e homenagens a personalidades ilustres, a Banda da União estava presente em todas as comemorações cívicas, sociais e religiosas da cidade. Hoje, centenária, procura com auxílio da comunidade local e do poder público, aprimorar cada vez mais as suas apresentações. Da principal função que lhe foi dada no ato de sua criação, a propaganda republicana, restam a tradição e a história musical contadas em partituras.

Firmada como tradição da cidade, a Sociedade Musical União XV de Novembro ou a “Furiosa”, apelido dado carinhosamente pela população, é conhecida pelos marianenses há longos anos. Seu toque, hoje completamente desvinculado da participação político-partidária, faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural da cidade de Mariana.

 

Os uniformes

 Tradicionalmente os grupos musicais apresentam-se sempre uniformizados. Alguns possuem vários uniformes, dentre eles o traje de gala, usado em ocasiões muito especiais. A escolha do modelo, da cor, do tecido e adereços é sempre feita com muito cuidado e segue a tendência dos trajes militares. É muito difícil encontrar em Minas Gerais uma banda que tenha modificado radicalmente o modelo dos seus uniformes. Assim como a formação dos músicos que obedece a uma ordem pré-estabelecida, os movimentos e a postura solene do desfile pelas ruas acompanham a tradição dos desfiles militares.

A Banda da União inicialmente se apresentava em trajes civis. O primeiro uniforme, de lã azul marinho com botões dourados e listra lateral verde amarela foi confeccionado somente em 1922 por ocasião da maioridade civil da corporação e trazia explícitas referências nacionalistas. Foi atribuída à Alfaiataria Santos, de propriedade do Sr. Sinval Batista dos Santos, a confecção do primeiro fardamento. Custou cada conjunto cerca de oitenta mil réis, havendo sido dispendida, com o equipamento completo dos figurantes musicais, importância significativa, produto advindo de mensalidades, subscrições e modalidades outras já conhecidas de angariar donativos. A estréia do primeiro fardamento ficou reservada para a data das festividades do 21º aniversário da corporação.

O segundo uniforme (1930) confeccionado em brim branco, foi substituído em 1937 por outro azul marinho e branco, mas sem as listras verde- amarelas, confeccionado pela Tesoura Grande, alfaiataria de propriedade do Sr. Aníbal Walter. Periodicamente trocou-se o figurino, tentando manter de alguma forma a identidade do grupo.

​A sociedade musical já se apresentou vestida de várias cores e refletindo tendência de modismos como, por exemplo, um uniforme de calça pantalona azul marinho, camisa social vinho e gravata, bem à moda dos anos 70.

Por ocasião do centenário foi confeccionado um novo traje, que manteve as cores e o modelo tradicionais.

Em 2006, com o importante apoio da Prefeitura Municipal de Mariana, foi confeccionado um novo uniforme inspirado nas vestimentas militares atuais, mantendo-se as cores tradicionais da União.

O uniforme, uma das principais características das sociedades musicais, é uma grande preocupação por parte dos músicos e da administração da Banda, geralmente por ocasião das apresentações dentro e fora da cidade. Como afirma o Presidente Amadeu da Silva:

“Uma banda bem vestida é mais bem recebida. Quando viajamos estamos representando a nossa cidade. Não podemos fazer feio, desde a apresentação musical, o traje, passando pelas boas maneiras e o respeito.”

 

 

A participação feminina na Banda da União

​A Banda da União, evoluída após décadas de existência, hoje apartidária e democrática, apesar de ter sido organizada de forma bastante simples, reproduziu durante décadas, modelos e tradições hierarquizadas da nossa sociedade patriarcal. A exclusão de mulheres do grupo de músicos até bem pouco tempo, exemplifica a mentalidade masculina que prevalecia no interior da sociedade brasileira.

O início da organização social no Brasil é o patriarcado, cujas bases institucionais estão centradas no grupo doméstico rural e no sistema escravista que não permitiam a participação feminina. À mulher não era dada nenhuma possibilidade de participação que lhe fornecesse instrumentos para escapar dos limites da privacidade doméstica.

Nos séculos passados e até nas primeiras décadas do século XX, as artistas e escritoras travaram grandes batalhas individuais para conseguirem se impor numa sociedade que recusava a sua participação, negando a sua capacidade. Muitas contestadoras e rebeldes acabaram internadas em conventos ou hospitais psiquiátricos, várias teorias foram defendidas com base em explicações científicas, para justificar a submissão e o obscurantismo a que era condenada a maioria das mulheres. Mesmo assim, muitos trabalhos femininos de grande valor foram publicados, porém, na sua maioria, através da utilização de pseudônimos masculinos.

​O direito ao voto só foi alcançado no Brasil em 1932, após inúmeras resistências e apesar da importância de várias autoras para a literatura do país, a renomada Academia Brasileira de Letras não permitiu a entrada de mulheres no seu meio antes da década de 60.

Nas bandas de música a atitude não era diferente. Apesar de serem sempre admitidas, enquanto colaboradoras, porque sempre ajudaram nas apresentações teatrais, na confecção de uniformes e na organização do espaço, às mulheres era vetada a participação artística. A divisão social do trabalho no que toca aos gêneros, significou a exclusão sistemática das mulheres de atividades de maior prestígio social.

É famosa a atuação de uma mulher na história da União XV de Novembro, a Adelaide Lemos. Aficionada fã da Banda, ela acompanhava todas as apresentações e fez isso até o fim da vida, como relata a Profª. Hebe Maria Rola Santos, Secretária da União XV de Novembro:

“Adelaide era uma mulher tão louca pela Banda da União que na época em que mulher não acompanhava a banda, ela se vestia com aquelas sedas finas e acompanhava a Banda por todo lugar que ia. Ela se vestia muito bem, era uma mulata muito bonita, grandona, casada com um português. Isso aconteceu na década de 20 e de 30 até quando ela morreu. Mas, foi uma ação isolada. Foi a coragem de uma mulher em ser uma espécie até de bandeira da Banda. Acho que ela encarnava isso. Ela descia toda arrumadinha e acompanhava a Banda.”

Atualmente as mulheres ocupam um bom espaço dentro da Banda e há muitos anos começaram a fazer parte do grupo de músicos. Elas chegam, aprendem, tocam e se apresentam, mas algumas, quando solicitadas pelos companheiros se retiram para o espaço privado do lar, onde ainda carregam sozinhas as responsabilidades domésticas. O homem geralmente não abandona o grupo quando se casa, mas a mulher, sim.

 

 




Rua Direita, nº. 151 – Centro – Mariana/MG
© 2018 | Desenvolvido por Masterix Sistemas