Nossa sede

A ODISSÉIA DA CASA PRÓPRIA

 

​Quem chegar em Mariana e perguntar a qualquer morador da cidade onde é a Sede da Banda da União é logo encaminhado ao casarão nº. 151 da Rua Direita. Antes de ocupar esse imóvel, que hoje abriga a Sede e que foi reformado entre o final de 2007 e início de 2009, a Banda funcionou em diversos endereços. Durante vinte anos foi utilizada, como sede, uma casa situada no início da Rua Marechal Hermes; depois, o segundo andar do prédio à Rua Antônio Olinto, assim como vários outros espaços na cidade. A União já teve sede no antigo Bar do Ponto, em residências de músicos e simpatizantes. Possuir uma sede própria definitiva consistia uma das maiores aspirações do grupo.

Em 21 de abril de 1914, no Jornal O Germinal, é publicada a notícia da doação do edifício hoje ocupado pela sede, pelos sócios do extinto Club dos Coiós. Assim, correu pela cidade a entusiasmada notícia:

“Os sócios do antigo Club dos Coiós tencionam fazer doação do edifício, em que fora outrora instalado, à simpática Sociedade Musical União XV de Novembro”.

“É com os mais calorosos aplausos que registramos agradável notícia.”

O Clube, grêmio recreativo, literário e teatral, inicialmente era uma sociedade carnavalesca que, com o passar dos anos, optou pelo trabalho artístico. Grandes sucessos fizeram as suas exibições de palco, notadamente o melodrama “O Remorso Vivo”, apresentado em 1908, com ricos cenários e ótima técnica.

​O local, que já havia abrigado anteriormente a sociedade, necessitava de reformas urgentes para a transferência da Sede. Foram então organizadas festas, rifas, quermesses e sessões teatrais, tudo em benefício da reforma. Um grupo de teatro amador, intitulado União e Perseverança, fez sucesso com a apresentação de montagens de textos patrióticos e dramas românticos com o objetivo de angariar fundos para a reforma da futura sede. Causou sensação e agrado geral a apresentação da peça intitulada “O Tenente Paulo”, de autoria do destacado marianense Dr. Alfredo Peixoto de Morais, poeta e escritor, bastante apreciado pelas suas aprimoradas produções. Foi esta a apoteose do empolgante drama:

“Cai o pano de fundo e vê-se um trono, em que três moças vestidas com as cores nacionais do Brasil, Argentina e República Oriental e coroadas de louro, seguram cada qual a sua bandeira. Todos os personagens perfilam em continência. O corpo de Solano Lopez é coberto com a bandeira brasileira em cena, ao mesmo tempo ouve-se o Hino Nacional pela União XV de Novembro.”

Outros espetáculos se realizaram com o mesmo objetivo. Nessa vereda de tantos obstáculos foram angariados alguns recursos que já permitiam pelo menos o início da reforma da sede própria.

Em 1921, confiou-se ao construtor Vicente Coluccini a tarefa de reconstrução da frente do prédio, que teria, com ligeiras modificações, o aspecto que hoje ostenta. Entretanto, os recursos adquiridos eram insuficientes para cobrir os custos da obra de refoma.

Só mais tarde, dez anos depois, puderam completar-se as remodelações desejadas. Cabe aqui destacar o importante papel realizado pela Troupe União XV, grupo teatral da Banda da União que tinha o elenco formado por seus integrantes, esposas, irmãs, simpatizantes e colaboradores da Sociedade e dirigida pelo ator e maestro Jorge Marques da Silva. Através da bilheteria dos espetáculos teatrais realizados, foram conseguidos os recursos necessários e a sede foi finalmente inaugurada em 15 de novembro de 1932.

A transcrição abaixo demonstra o brilho que se revestiram as solenidades de inauguração e o entusiasmo reinante na grata oportunidade:

​​“Precisamente às 13 horas do dia 15 de novembro de 1932, repleto o amplo salão ricamente ornamentado, procedeu à benção das dependências o Revmo. Cura Cônego José Cotta, que também oficiou a entronização da respeitável imagem de N. S. Jesus Cristo. Em seguida, foi aberta a sessão pelo Sr. Olímpio Gomes de Araújo, que convidou para presidi-la o Prefeito Municipal – Dr. Bernardo Aroeira (...). Finalmente, na pessoa do Sr. Jorge Marques da Silva, agradeceu aos demais componentes da Troupe União XV, pela encarecida colaboração, que constituiu um dos elementos primordiais para a concretização do ideal da Sociedade, além de haver permitido que fossem vividas noites de gala e merecido triunfo, na oportunidade de suas exibições. Afinal, foi servido um copo de shopp aos presentes que, entre aclamações e vivas repetidos, foram se retirando ao término da agradável festa.”

Entre o final de 2007 e início de 2009, a Sede passou por uma grande reforma: o telhado foi restaurado, o piso da parte superior (onde a Banda ensaia) foi substituído e toda a parte elétrica e hidráulica foram trocadas por materiais novos e de qualidade. Essas intervenções se faziam necessárias, uma vez que as instalações elétricas, o telhado e outras partes do edifício já estavam bem danificados pela ação do tempo. Os banheiros e a cozinha foram totalmente reconstruídos para proporcionar a todos que os utilizarem mais comodidade. Foram ainda construídas duas novas salas: uma para acomodar a presidência e outra para acomodar a regência.

​A Sede, hoje, possui, além do local de ensaio e de formação musical, um arquivo que abriga o seu acervo documental, aberto ao público além fototeca, e da exposição permanente “Banda da União” que conta a história da corporação.

A Sede da União XV de Novembro tem fama. Muito da história de nossa cidade passou-se no interior daquela Casa tão identificada com os marianenses. Tão famoso este prédio é, que qualquer um que for perguntado sobre a sua localização logo responderá: “Ah, sei sim. Fica ali na Rua Direita”.




Rua Direita, nº. 151 – Centro – Mariana/MG
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