ENSAIOS E PRIMEIRA EXIBIÇÃO PÚBLICA DA UNIÃO XV DE NOVEMBRO
Iniciaram-se em agosto de 1901 os ensaios preparatórios da novel agremiação, cujo sustentáculo estava menos nos recursos materiais, do que na boa vontade e perseverança de seus componentes.
Cedida graciosamente, pelos herdeiros do saudoso Manoel Pereira Bernardino, uma sala de sua residência, à Rua Direita, ali se fizeram ouvir as primeiras clarinadas, que aguçavam a vizinhança, aumentando, ao mesmo passo, a afluência da mocidade sonhadora ao “footing” da rua fronteira.
Três meses depois, com agradável repertório, exibiu-se, enfim, conjunto exatamente no décimo quinto dia do 11º mês de 1901, donde se cognominar ‘UNIÃO XV DE NOVEMBRO (...).
Prestaram notável colaboração ao incipiente grêmio os senhores Sidney Eduardo do Carmo, Sancho Alves Pereira e José Tomaz de Aquino, exímios músicos, pertencentes à corporação musical “São José”, a qual fundada na mesma época, se destinava mais à participação de festas e ofícios estritamente religiosos.
Comemorava-se naquele dia o transcurso do 12º aniversário da Proclamação da República, constituindo nota sonante a presença da “União 15” no bem organizado programa, que aqui se transcreve:
Às 9 horas – na Igreja da Arquiconfraria de São Francisco – Missa oficiada pelo Revmo. Padre Tenente José Caetano dos Santos Faria, ex-Capelão do 31º Batalhão, que então assistia na vizinha cidade de Ouro Preto.
Antes dessa hora, formou-se um Préstito Cívico, precedido por 22 meninas, dispostas em duas alas, trajadas de branco, ostentando cada uma barrete frígio e, a tiracolo, uma fita verde-amarela, enquanto as mãos empunhavam bandeirinhas, contendo a inscrição do nome de cada Estado do Brasil e do Distrito Federal. Ao fundo, à igual distância das alas, uma se destacava vestida de túnica verde e manto azul sobre o braço esquerdo, cuja mão sustinha o Pavilhão Nacional. Era a República.
O prestígio se organizara à Praça da Independência (atual Praça Gomes Freire) em frente à residência do sempre lembrando marianense, incorporando-se-lhe a “União 15 de Novembro”, cujos músicos, sobraçando reluzentes instrumentos, trajavam vestimentas civis.
Após vibrante execução do Hino Nacional, iniciou-se o desfile ao som de marchas festivas e dobrados, entoando-se a cada passo canções patrióticas. Foram percorridas as Ruas Márquez Herval (atual Rua Barão de Camargos), do Seminário e finalmente a Rua Nova (atual Rua Dom Silvério) até a Igreja da Arquiconfraria de São Francisco, onde foi celebrada a Santa Missa.
(...)
Completou-se o grande dia com um festival, realizado à noite, quando foram encenados no palco do antigo Teatro Municipal, à Rua Nova (atual Rua Dom Silvério), um drama e uma hilariante comédia, de que participaram rapazes e senhoritas da sociedade local.
A exibição dessas peças mereceu francos elogios da seleta assistência, também liberal nos aplausos à “União 15 de Novembro”, que nos intervalos deleitava ao ambiente com agradáveis melodias.
Não se encerrara ainda a atividade da corporação, cujo conceito já se estratificava na apreciação de críticos e admiradores. E, quase ao findar do ano, significativa homenagem, era prestada, na data magna da Cristandande, ao “Rio Carmo”, intrépido órgão da imprensa local. É o que se lê no exemplar do referido periódico de 12 de janeiro de 1902:
No dia 25 de dezembro de 1901, a “União 15 de Novembro” dirigiu-se à Redação do “Rio Carmo”, jornal fundado para defender os interesses da Cidade e do Município; ali executou diversos números musicais, destacando-se dentre eles a “Muchacha” e a “Polaca” que foram muito aplaudidos pela Audiência.
Escoaram-se mansamente os restantes dias, até que a população foi despertada, aos primeiros arbores de 1902, por ocorrência inédita: de longe chegavam aos ouvidos dos quedos habitantes um murmúrio, vago a princípio, e que aos poucos foi tomando corpo, adensando-se, ao ponto de ser possível a exata identificação: eram sons musicais, não havia mais dúvida. Era a “União”, em cadenciada marcha pelas ruas centrais, fazendo ecoarem vibrantes dobrados, que só foram cessando aos laivos da aurora.
Referência Bibliográfica:
MANSUR, Elias Salim Mansur. Súmula Histórica da Sociedade Musical União XV de Novembro. Mariana: Ed. Dom Viçoso, 1951, p. 02 e 05.